Andava cambaleando por ai, sem rumo ao certo, com longas paradas. No ônibus anunciava uma orquestra de ruídos perdidos e sonhos atrasados. Uma fria tarde de sexta-feira, era inverno, as roupas tiradas do fundo do guarda-roupas, o nariz gelado avermelhado, lábios rachados. Esticava-se no banco, e uma brisa fina da janela aberta tocava o rosto,e bagunçava os cabelos. Um sorriso, um sol nos olhos, pele dourada, morena quase um pecado. Os livros que balançavam na mochila, e o violão, que tinha capa de coelhos, posso nunca mais lembrar de meu nome, mas, inconfundivelmente não esqueceria do violão coberto pela capa azul de coelhos pretos.
Eu me equilibrava nos bancos do onibus com muito esforço, sentei ao seu lado, seu perfume doce, ela olhava pelo vidro da janela embaçada a estrada molhada, e eu, olhava seu reflexo. Estava com as mãos pousadas na perna, inquietantes, pareciam fazer o ritmo de uma música que eu conhecia, ela escreveu no vidro "Imagine-se consigo mesmo em um barco em um rio", eu reconheceria aquela frase de qualquer lugar, e completei _com árvores de tangerina e céus de marmelada... - ela levantou o olhar, e sorriu timidamente vendo meu reflexo e completou: _Alguém te chama, você responde muito lentamente... _Uma garota com olhos de caleidoscópio. Ao mesmo tempo, nos olhamos, e falamos Lucy in the sky with diamonds, The Beatles! - e sorrimos, realmente tinha os olhos de caleidoscópio. _Prazer, Lucy! - sorriu para mim. _ Você quer dizer, Lucy...como a música? seus pais só poderiam ser fã do The beatles. Dean. - Estendia as mãos. Foi tudo que consegui dizer diante de Lucy. _Papai quem colocou este nome - se levantando, e pegando o violão - Ele sempre cantava esta música antes de dormir. Agora preciso ir, nos vemos no táxi de jornal... _a margem do rio. E ela se foi, e nunca mais a vi, a garota com olhos de caleidoscópio.
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