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sábado, julho 28, 2012

Para quem está livre para se entregar, um texto livre de quem se entregou.

“Você esta me lendo vestido, ao contrário de mim que estou escrevendo as 4 da madrugada completamente nu. Com o pau melado, isso lhe ofende? Depois de uma trepada daquelas que te atingem com arrepios que vem da Medula e descem espinha abaixo como se fossem uma corrente desgovernada da chuva mais forte que se deu sobre a fonte do rio. Com todos os receptores da minha pele abertos. Este é meu estado. Não se apegue aos detalhes. Isto lhe atiça a curiosidade?

Os spots de luz miram-me apagados. Apenas a tela desta máquina ilumina minha face. Não tem musica, não tem crianças correndo pela sala, não tem barulho de carros, há apenas um silêncio gutural.
É um tesão acumulado que se faz estimulado do momento em que você chega no lugar onde estava, com centenas de pessoas por perto e sente o toque da pele dando choque. O bico dos seios arredios sob a blusa. A saia curta por onde discretamente você passa os dedos de forma delicada levando ela a um suspiro disfarçado que não disfarça nada para os mais atentos. Então você encosta nela e mostra como seu pau esta explodindo de desejo por dentro da calça e ela propositalmente encosta o corpo e se move lentamente, elevando seus pensamentos para muito longe de tudo aquilo.
Mas isso não é um relato sobre conquistas, muito menos um manual de como levar uma mulher para cama. Cada mulher tem a sua particularidade, seu cheiro, sua pele, seus modos. Isso é um relato sobre eu estar nu e você estar vestido. Lendo do trabalho, de casa, de qualquer lugar.
Estar nu, e andar nu, e ter o vontade insana de abrir a porta nu, e sair pela madrugada andando nu pelas ruas. Sem ofensas ok? Pela poesia. Pela liberdade. Pela noite com a lua em sua crescente e algumas poucas e lindas estrelas no Céu. Sobre o que é a liberdade de não atingir ninguém com a idéia maluca de caminhar sem vestes, sem adereços, sem a vigília alheia.
E quando você tem uma mulher nua e melada de pernas abertas na sua cama. Quando ela quer te dar prazer como se um tsunami fosse atingi-los em cheio em sua cama em menos de duas horas. Quando os gemidos deixariam os vizinhos rubros de vergonha, mas nenhum de vocês se importa. E os corpos se encaixam formando várias figuras. A luz contra joga as imagens no teto do quarto e não há como discernir quem é quem. Somos apenas um.
Existe sexo e existe sexo com amor e existe sexo com muita putaria e amor e existe um sexo que te escraviza como se seus pés estivessem acorrentados e um mercador lhe oferecesse em praça pública com um preço ridículo. Você sabe que será vendido, jogado num navio podre, onde as pessoas passarão semanas ou meses viajando no porão, cagando e mijando nos cantos e tentando dormir enquanto alguns choram, outros vomitam e outros tentam se suicidar.
Existe o momento em que uma flecha atravessa seu peito no meio da sua fuga e lhe tira a última respiração, é quando você se liberta deste corpo terreno e se transforma em algo etéreo, leve, sem massa, sem presilhas. É o orgasmo, o gozo, o jato de porra que espirra para todos os lados. É o símbolo máximo do instinto mais selvagem que existe no seu âmago. Você sequer saber quem é e onde está. Isso é raridade. É como encontrar um rubi no meio de uma pedreira congelada onde nenhum homem jamais teve coragem de tirar seu casaco.
Mas você está vestido agora e eu estou completamente nu. Isso lhe agride? Saber que estas em um diálogo onde o seu interlocutor esta pouco se fudendo sobre o que estão pensando sobre isso agora? Onde ele tenta em forma se palavras expressar o êxtase de uma noite sem pudores. Com ofensas vindas do sorriso. Com agressão verbal sem pena como um holocausto. Como uma faca que entra entre seus olhos e vem jogando suas vísceras para fora, como se fosse um chefe de cozinha chique preparando o porco que os ricos vão jantar logo mais? Pois é intenso e atormentado feito a sede.
Como aquela madrugada em que você encheu sua cara de álcool e acordou com a garganta grudando sem conseguir respirar, porque o ar condicionado te ressecou por dentro e você respira pela boca. Sua salvação é a bica do banheiro mas ela não funciona, e como no deserto, não há uma fonte de água qualquer que possa saciar seu pesadelo. Então você manda tudo a merda, faz conchinha com as mão e bebe a água da privada. Isto te salva, te alivia, te traz de volta.
Isto é andar nu, é vagar nu, é escrever nu, é raciocinar nu, é se entregar as linhas de uma página em branco e apenas expressar o que vem na sua cabeça.
Aquela mulher linda e deliciosa que te chama para dentro dela. Que pulsa quando você já a penetrou. Que arfa feito uma cadela no cio. Que tem uma crise de asma quando esta prestes a gozar. Que crava as unhas no lençol e não larga mais, como se fosse despencar de um despenhadeiro infinito. Corpo quente como a febre que não tem cura. Sexo encharcado.
Experimente pelo menos uma vez na vida amar alguém como se esta fosse a única maneira que te fizesse entender o que é estar livre. O que é deixar de ser um idiota programado, com palavras feitas, com frases de impacto, com um emprego estável, com um jogo de futebol entre amigos todas as terças feiras, como se nenhuma de suas traições fosse maior do que trair a si mesmo.
Experimente, sentir-se pelo menos uma vez na vida, você mesmo. Tire essa máscara, esses implantes, essa veste que te molda, e aproveite cada segundo que tens ainda neste planeta.
Estou terminando este relato e você ainda estará vestido. Dormirei nu. Amanhã quando despertar, volto para minhas privações e para o oposto do que isso pode me conduzir. Porque meu instinto é selvagem, porque ninguém pode me domesticar, mas porque pela ordem do divino, me permiti viver mais uma noite de amor intenso, e cada vez que duas ou mais pessoas vivem uma noite de sexo, violência e perversão e amor sem ofender a moral e os bons costumes alheios, no coito escondido, no clandestino, silencioso e mágico encontro de sentimentos que nada do que foi lido até agora será capaz de expressar, tenha certeza, será como a sensação de liberdade do escravo em fuga que matou seu algoz e bebeu seu sangue antes de se livrar de todas as maldades que lhe foram marcadas na pele.

Continuo nu.
Continuarei desnudando o mundo.
Continuarei na contra-mão do que alguns de vocês acha bonito aplaudir.
E isso me fará sentir mais vivo do que nunca.
Como me sinto agora escrevendo que esta prosa chegou ao fim.
Cinco e dezoito da manhã.
Hora de dormir.
Bom dia.”


- Tico Santa Cruz

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